à medida que ouço o mal
compreendo a fadiga;
a labuta de quem desliza as avenidas
em prol de lágrimas, é esmaecedor.
cai sob o pé a esperança,
não mede esforços para se levantar
é toda vestida de luto, entretanto,
os sapatos ainda são vermelhos.
cai a noite e, entre o cair e a noite, o desatino.
a transparência, do movimento, é pérfida.
ocorre taciturna enquanto repousa no todo.
à mercê do porvir o todo é acaso.
contudo o tempo passa esmiuçado,
e gradualmente se transforma.
nesse tempo, avenidas de penumbra já não anunciam
mais prerrogativas.
é vento de amor, é vento de amar.
o amor, que hoje é soberba, coordena a máquina.
amar é burocrático; para o insensível: inconstitucional.
o amor é fadiga e também labuta.
é preciso lapidar, moldar e amar.
mas nada tem a ver com o ódio,
tampouco o fato de serem concomitantes
e concorrentes numa mesma vida.
a máquina, que sabe que a morte é plena,
fica à deriva, sem custódia.
e a vida hermética dilui-se nesse contexto.
o contexto não é convalescente,
é efetivo e único, não dispõe da esperança.
pobre esperança, que aguarda sob os pés a entrega do ateliê.
na ausência hermenêutica aderimos ao amor,
que é vazio de respostas e compreende a necessidade de ser.