Nos últimos dias a internet tem cessado sua praxe para alavancar um fato: a queda da cortina. Acontecimentos do gênero ocorrem esporadicamente, mas este tomou visibilidade pela ligeira mão do fotógrafo. O caso é de um jovem que estava em uma casa noturna e, consequentemente, foi flagrado por uma mulher que também estava em uma casa noturna, no entanto, cuidando de seu filho sem som e sem bebida. Não que ele deveria estar fazendo o mesmo.
O mérito não caiu nas costas do fotógrafo, pelo contrário, o mediador do conflito foi ocultado. A proporção do acontecimento foi fomentada pela ignorância dos espectadores, que num impasse de mágica ausentaram-se do senso crítico e da sensibilidade; se é que se pode dizer que esses espectadores um dia estiveram presentes.
Após assistir a entrevista do sujeito – onde compareceu até o proprietário da casa noturna – percebo que a fama está defasada. Inverteu-se os valores. Não é mais célebre aquele cujo pensamento é frutífero, cuja vivência contribui. Não é a vez do padeiro do melhor pão, nem do atleta mais habilidoso. Ganha a efemeridade inábil. São as banalidades contingentes vivenciando seu auge meritocrático. É a mediocridade como vapor consolidado.
Para que se possa chegar à fama, o indivíduo passa por um critério avaliativo, o qual é escrito e julgado por pedantes, resultando numa complacência com a ignorância, que pertence tanto aos pedantes quanto ao alvo de tal critério.
É a contemporaneidade em que feministas lutam por reconhecimento, negros por igualdade, pobres por direitos, transgenêros por aceitação, mas quem obtém a atenção do público é um baladeiro que, a meu ver, desconhece até mesmo a origem da palavra “política”, palavra na qual está ligada intrinsecamente a ele.
A subjetividade do sujeito é, no mais, entristecedora. Denota-se na entrevista o quão superficial é seu vocabulário, seu conhecimento, sua postura. Digno de leviandade. Palavra, que para a literatura é o cerne da vida, para ele é sua pior inimiga.
A fama, quando espontânea e surgida subitamente, contrasta a edificação do ser. Quando aquele – que nenhuma realização coletiva ou pessoal possui – toma a notoriedade, inebria-se na infindável narcisização, não obstante, torna-se para ele um trem irrefreável com uma carga composta de consequências.
Se a fama é moradia de palhaços, parei de frequentar o circo.